Não lembro bem se era tanta fome assim o que eu sentia. Às vezes sim, noutras não. Contudo, sempre aguardava o horário no qual ele anunciava que iria comprar pão. Saia apressado e não demorava a retornar e seus passos acelerados. Um sorriso nos lábios e um pacote de pães nas mãos apertando-os só para eu constatar o quanto estavam frescos e crocantes.
Água no fogo para esquentar e fazer café. Pães cortados e besuntados, bem besuntados com manteiga, adicionados de fatias de queijo e presunto. Em cada gesto a se aproximar de mim e me adornar com beijos, sonoros e crocantes. Os pães prontos a serem colocados na sanduicheira. O passo seguinte era arrumar a mesa e me chamar para o café da manhã. Por vezes bem cedo, noutras bem tarde e nunca era tarde para um amor crocante. As papilas gustativas se deliciavam, a boca e todo o paladar eram agraciados com a coisa sublime que eram aqueles pães, aquele gesto, aquele homem. Era tudo crocante.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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