O Banco Central do Brasil (BC) decidiu, em sua última reunião, manter a taxa Selic em 15% ao ano, interrompendo assim o ciclo de aperto monetário que teve início em setembro de 2024. Essa decisão, que era amplamente esperada pelo mercado financeiro, foi aprovada por unanimidade pelos diretores da instituição, liderados pelo economista Gabriel Galípolo.
Através de um comunicado divulgado após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC enfatizou a necessidade de cautela diante das incertezas econômicas atuais. Entre as principais preocupações estão os efeitos das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, que têm elevado a volatilidade do cenário econômico global. Além disso, o Copom alertou que as expectativas de inflação permanecem desancoradas, indicando que a taxa de juros deve continuar elevada por um período prolongado.
O documento ressalta que “o ambiente externo apresenta desafios significativos” e que os anúncios relacionados às tarifas comerciais dos EUA sobre produtos brasileiros estão sendo monitorados com atenção. O Comitê sinalizou que poderia iniciar cortes na taxa de juros nas próximas reuniões, desde que as condições econômicas sejam favoráveis.
Entretanto, o Copom reforçou sua vigilância e a possibilidade de retomar o ciclo de elevações caso necessário, a fim de garantir que a inflação convirja para as metas estabelecidas. A comunicação do BC também destaca que os riscos inflacionários são superiores ao normal, tanto para alta quanto para baixa.
A projeção do Copom para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no primeiro trimestre de 2027 é de 3,4%, acima da meta central de 3%, com um teto de 4,5%. A situação atual exige uma abordagem cautelosa em relação à política monetária.
Especialistas em economia têm manifestado suas análises sobre essa decisão. Alguns indicam que o comportamento do câmbio será crucial na formação das expectativas futuras sobre a inflação. Se o dólar continuar sua trajetória de queda, existe uma possibilidade de redução da Selic já em dezembro; no entanto, essa não é uma certeza.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, apontou que o fato de o Copom ter destacado as tarifas impostas pelos EUA logo no início do comunicado foi acertado. Contudo, ele também sublinhou a complexidade do cenário interno brasileiro. Vale acredita que há uma pequena chance de corte na Selic até o final deste ano devido à incerteza gerada pela guerra tarifária e pela proximidade das eleições em 2026.
André Perfeito, consultor econômico, expressou preocupações sobre as repercussões dos ataques da administração Trump ao Brasil e os possíveis impactos nos exportadores brasileiros. Segundo ele, além das sobretaxas impostas, a flutuação do câmbio afetará ainda mais os exportadores nacionais.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Bv, considera que a estratégia do BC permanece constante e deverá manter os juros elevados até que as expectativas inflacionárias se estabilizem. Ele alertou sobre as incertezas relacionadas ao cenário fiscal e à capacidade instalada da economia brasileira.
Luiz Otávio Leal da G5 Partners avaliou que a postura conservadora do Copom indica que a interrupção no ciclo de altas pode ser uma pausa temporária. Ele mantém sua previsão de que a Selic permanecerá em 15% até 2025.
Caio Megale da XP Investimentos destacou que havia espaço para uma redução da Selic nesta reunião e interpretou a manutenção como um sinal mais rígido por parte do BC. Para ele, isso sugere um tempo maior até o início dos cortes nas taxas.
No cenário global, com a Selic mantida em 15%, o Brasil ocupa atualmente a vice-liderança no ranking mundial de juros reais. Apenas a Turquia apresenta taxas mais elevadas nesse contexto.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) expressou preocupação com a manutenção da taxa Selic nesse patamar elevado, afirmando que uma política monetária mais equilibrada é necessária para evitar sufocar a economia real.
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