No canto da cozinha o fogão fervia água, panelas de cozidos, pensamentos e temores. A vida poderia se resumir àquele ponto, entre duas paredes.
Sobre a chapa metálica a panela de peixes, exemplares de uma espécie das mais simplórias a se deixar cozinhar. Bastava raspar as escamas e colocar lá no fundo, fazendo-os deitar por sobre camadas de cebola, tomate e outros temperos. Havia tensão em retirar as escamas dos peixes, em deita-los na panela juntos aos temores e cebolas. O corte das chalotas sempre de marejar olhos. Fogo nas chamas ardendo, panela berrando e os peixes finalmente cozidos. A singeleza e humilde origem do peixe e de quem o consumia moldados por um temor que ardia dentro da panela e por dentro da cabeça de quem cozinhava. Peixes baratos, não custavam quase nada e ela agradecia enquanto cozinhava.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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